sexta-feira, 14 de novembro de 2014

O Estranho Caso do Portista Kamikaze

Tendo nascido em 1978, tenho apenas uma vaga ideia do Artur Jorge. Do calcanhar de Madjer. Do Oliveira. Mas lembro-me perfeitamente da conquista da Champions League, da emoção que senti, desse vibrar e da ridícula capa do dia seguinte d' A Bola, a ignorar completamente este feito histórico.
Tenho presente a segurança de Vitor Baía, a raça do Jorge Costa, mas tenho também presente o génio louco de Benni McCarthy, a estratégia de Alenichev.
Na história do FC Porto sempre houve grandes - e fundamentais - jogadores estrangeiros no nosso clube. Além dos supra-citados, casos como os de Mário Jardel, Aloísio, Álvaro Pereira, Lisandro Lopez. Deco (depois o mais Português de todos), Anderson, Pepe, James Rodriguez, Hulk, Falcao, e o meu jogador preferido de sempre, Lucho González. 

Nenhum deles teve vida fácil no nosso FC Porto. A contratação de Hulk foi tida como cara, bem como a de Danilo. Lisandro foi criticado pelo seu crescimento lento. Falcao também. James teve um ano inteiro de adaptação em que muitos o punham em causa. Até Jackson - houve quem achasse que era caro para a idade que tinha - e um longuíssimo etcétera. Sempre existiu a massa assobiativa, canibal e auto-flagelante. Sempre houve quem pusesse tudo em causa ao primeiro desaire.

Também sempre houve, por defeito, uma exaltação das qualidades - inegáveis, diga-se - dos portugueses do plantel, contra a desconfiança - pragmática, diziam sempre os treinadores de bancada, pois eles "tinham de dar provas"  -  em relação a jogadores estrangeiros.

É inegável que jogadores como James, Hulk e Falcao ficarão sempre no nosso coração. Mas, se dantes havia uma super Estrutura, sólida e viril, que os protegia sempre, e que os ajudava a demonstrar à massa assobiativa que a marcha do Tempo é demonstrativa contra a "espuma dos dias", hoje em dia os jogadores estão expostos a um escrutínio muitíssimo duro.

Aliado a uma cada vez tentacular, mentirosa e concertada Comunicação Social, está um mundo das redes sociais, onde tudo o que conta é o instante, não há tempo para progresso, ou margem de tolerância para adaptação e crescimento. Os nossos adversários da Segunda Circular aproveitam-se disso. Se juntarmos a isto uma certa xenofobia de uma grande parte da nossa massa assobiativa, bramindo discursos como " perdemos a nossa Identidade" , "já nenhum é Portista" , "estamos descaracterizados", temos aqui um caldo repelente muito perigoso, que poderia servir de vírus letal para a dizimação do nosso Clube.

Passa-se hoje um fenómeno assustador. Dada a propagação de programas de comentário desportivo, com paineleiros portistas que querem ser sempre "isentos" e "equidistantes" ao invés do sectarismo dos restantes,e a proliferação de plataformas desportivas nas redes sociais, vê-se cada vez mais na boca do adepto assobiativo a reprodução ipsis verbis do discurso paineleiro de uma ratazana Santos , um Gobernahipo e um Gosma da Silva. Aliás, e mais assustador ainda, é que eles já perceberam que o pior crítico do FC Porto é o seu próprio "adepto" que escreve em blogues críticas birrentas e impacientes, disfarçadas de um conceito tão vazio como a "cultura de exigência".

Assusta-me e preocupa-me, aliás, que este mesmo "adepto" seja elogioso aos de fora, como aqueles que já não são da nossa casa, e críticos com aqueles que estão lá, no campo, a lutar pelos títulos que eles exigem! E tudo isto, neste momento, elevado à potência de toda a vilipendia e o maquiavelismo do pensamento dominante, que estes "adeptos" absorvem sem pensar. É como um ácido corrosivo este trauma de Tordesilhas que assola o nosso Clube, por exemplo. Lopetegui não é um treinador mau, é "esse sacana desse espanhol". Absorveu-se o conceito da "armada espanhola" quando temos tido, no máximo, dois jogadores espanhóis a titulares. Esse discurso balcanizador serve para desestabilizar o balneário. Como, aliás, a questão do Quaresma, que servia apenas para que se desse excessiva importância a um jogador sobre os outros.

Como estava a claudicar esse problema, uma vez que o nosso inteligentíssimo treinador soube dar a volta ao falso problema, equilibrando - como seria expectável por qualquer pessoa racional! - a utilização do jogador em causa, dando-lhe minutos sem o esticar até não poder mais, eis que a Comunicação Social se apercebe da mais recente birra da massa assobiativa: Adrián López!
Estava a tardar, mas lá vieram os abutres almoçaragradecendo o repasto aos autofágicos adeptos. Este introvertido jogador é presa fácil para estas hienas, mas não deixa de me espantar como podem os adeptos não perceber a estratégia.

Uma vez mais, essa enciclopédia viva de tudo o que é escrito, o Miguel Lima do Tomo II, colocou uma pergunta bem pertinente: Porque é que ninguém faz a ligação entre o Relatório e Contas e quanto terá verdadeiramente custado o Adrián. Insisto, vi o jogo contra o Estoril duas vezes, e não só Adrián esteve muito bem posicionado, como o sistema não foi assim tão caótico! Se for, talvez, um pouco mais 4x4x2 e menos 4x2x4, a coisa pode fazer-se bem. Aliás, parece-me avisado que se tenha um sistema alternativo de jogo, para deixar os adversários sem saber muito bem com que contar! Não é uma mais valia? Mas alguém pensa que se pode adaptar uma equipa a jogar bem em dois sistemas de jogo ao mesmo tempo, em 4 ou 5 meses?

Estou muito satisfeito com o que temos, muito orgulhoso do que Lopetegui tem construído. Passamos de uma equipa risível, em frangalhos e desorganização táctica, para um sólido e coeso grupo - desde os tempos de Villas-Boas que não via um grupo tão unido! - em que o espírito do colectivo se sobrepõe ao individual. Não há egos exagerados nem super-estrelas. E todos tem a raça, o querer e a determinação de tentar tudo por tudo até ao último instante! É por isso que cada empate sabe a derrota, sente-se sempre que a luta e o sacrifício de deixar a pele em campo por parte do colectivo não merece outra coisa que não a vitória.

Essa, aliás, foi sempre a Mística do FC Porto! A superação de si próprios, o pensar no outro como em si mesmo, a luta aguerrida até ao último instante!

Meus caros amigos: Este blogue chama-se Porto Universal por isso mesmo - porque, para mim, Ser Porto não é restringido à geografia ou nacionalidade. Porque Ser Porto é sentir a Chama Azul e Branca no sangue, é pulsar o Fogo da Determinação e Garra nas veias, é fazer do impossível o possível, é ganhar e crescer independentemente de quem está do contra, do outro lado, a congeminar na sombra. Ser Porto não é dependente de ser português, argentino, colombiano, brasileiro, russo, argelino, camaronês. Ser Porto é estar lá e deixar tudo no campo!

Deco, Lucho Gonzáles, James Rodriguez, Hulk, Fernando, Benni McCarthy, entre muitos outros, serão sempre Porto. Deixaram tudo lá, no relvado, enquanto cá estiveram. Serão sempre parte da Memória, como tenho a certeza que muitos dos que jogam hoje, arrisco a dizer a maioria, cá, serão sempre Porto também!

E @ car@ Portista, deixa tudo na sua cadeira de sonho como eles? Quer fazer parte daqueles que elevam os que lutam às bravas conquistas? Quer fazer parte daqueles que são indispensáveis, com o apoio e o incentivo, da Vitória nos desafios?

Venha apoiar no próximo dia 30! Faça a sua parte connosco! Passe a mensagem de que, contra tudo e contra todos, Unidos venceremos!

Somos Porto carago!


7 comentários:



  1. @ Jorge

    acredita que fico (mesmo) sem jeito :D
    muito obrigado! por mais uma referência ao meu estaminé e acredita que há muitas mais «enciclopédias vivas» por essa bluegosfera :D

    no fundamental:
    o meu jogador "estrangeiro" preferido de todos os tempos foi o Deco, por todas as razões e pelo sublime prazer que nos proporcionava de cada vez que tocava na 'chichinha'. actualmente o Brahimi é o que mais se aproxima desse prazer, mas está (ainda) a anos-luz (cruz! credo! lagarto! lagarto! lagarto! ai! "isto também não! :D) de se poder apelidar de «portista convicto».

    abr@ço
    Miguel | Tomo II

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    1. Caro Miguel,

      Infelizmente não acredito que o Brahimi vá ficar por cá para ter tempo de ser Portista...

      Abraço!

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  2. Muito bem!
    A capacidade que o F.C.Porto tem de se renovar e deixar os fins de ciclo para os outros, é algo que mais ninguém consegue na europa do futebol. Na época passada foi mau, mas nesta já estamos apurados para os oitavos da CL a duas jornadas do fim. A equipa já está outra vez na montra, alguns jogadores são falados como homens do momento, não por uma comunicação social facciosa e vendida, que faz de qualquer jogador normal uma super-estrela, sim por orgãos de comunicação sem interesse em vender papel em Portugal. O resto é conversa para boi dormir.

    Abraço

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    1. Obrigado!

      E mai' nada! E ainda sou capaz de apostar que o nosso patinho feio vai ser outro dos que serão falados!

      2 golinhos ein? Maravilha!

      Abraço!

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  3. Caro Jorge Vassalo,

    Magnífico Post. São tantas as nuances do Universo Portista que aborda no seu Posto, que não me atrevo a desenvolvê-las todas, se calhar por incapacidade minha. Mas adiante. Diz o Jorge que nasceu em 1978 e eu digo que nasceu um Portista abençoado, pois foi o ano em que o FC Porto se sagrou Bi-Campeão Nacional depois de 19 anos de jejum, sob o comando do eterno e nosso "Zé do Boné", José Maria Pedroto. Tem uma vaga ideia do Artur Jorge e do calcanhar do Madjer em 1987, natural, tinha 9 anitos. Pois eu, aos 5 anos, 55/56, já tinha uma vaga ideia do Yustrich no FC Porto por força das comemorações do meu falecido Pai com a conquista de 1ª dobradinha do FC Porto, era o embrião do meu amor ao FC Porto. Isto, para dizer que adeptos e até sócios do FC Porto mal (ou bem) habituados à fartura de Títulos e alguns, em consequência, já esquecidos da travessia do deserto, reagem com impaciência, por vezes excessiva, a qualquer momento menos bom do nosso Clube, emprenhando pelos ouvidos e colocando em causa tudo e todos. Não será exclusivo dos Portistas, quiçá, num contexto mais abrangente, reflexo de uma sociedade pouco receptiva a lidar com as adversidades. No que me diz respeito, meu caro Jorge, continuarei a sentir no sangue a chama Azul e Branca do nosso FC Porto em qualquer circunstância, até ao fim dos meus dias.

    Se me permite, através do seu Blogue, envia um abraço ao Miguel do Tomo II.

    Abaço Dragoniano e...

    FC PORTO SEMPRE

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  4. meu caro Fernando retribuo o abr@ço :-) a ver se se marca novo rendez-vous :-)

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  5. Caro Miguel,

    Obrigado. Para um novo rendez-vous, preciso primeiro de reforçar o forro da carteira, que a vida não está fácil.

    Abraço e...

    FC PORTO SEMPRE

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